A morte personificada no repertório dos narradores orais
Castellano
Os movimentos de narração oral, em todas as suas geografias, não são dissociáveis da ideia de “renascimento”. É sob este prisma que muito autores compreendem o fenómeno, nas suas diversas línguas: renacimiento, em Castelhano (Sanfilippo 2007); revival, em Inglês (Sobol 1999, Heywood 2000, Ryan 2003); renouveau, em Francês (Calame-Griaule 2001, Patrini 2002, Haeringer 2011), entre outras. No entanto, apesar de muitos artistas revelarem um sentimento de pertença a uma determinada cultura ou a uma linhagem tradicional, a necessidade de identificar os limites entre a prática contemporânea de contar histórias e aquela que pertence ao universo da tradição oral não deve ser desprezada. Com efeito, a compreensão do fenómeno dos movimentos de narração oral enquanto renascimento de práticas e patrimónios tradicionais apresenta fragilidades. Ao contrário do agente que, nos contextos ditos tradicionais, contava (e conta) histórias em contextos familiares e comunitários, o artista narrador oral é, em primeiro lugar, alheio ao universo de origem das narrativas. Mesmo quando reproduz um repertório da sua própria realidade geográfica, como por exemplo, um narrador minhoto que trabalha sobre contos de tradição oral do Minho, importa notar que a cultura urbana e alfabetizada de que faz parte é estranha ao contexto rural e campesino em que estas histórias se transmitiram oralmente através das gerações. Com efeito, há muito que esta estranheza se revela na maioria das adaptações de contos presentes na literatura, no cinema ou em outras artes, procurando atenuar o racismo, o machismo ou a violência normalmente presente nesses repertórios, sejam de tradição oral, sejam do universo dos “contos de fadas” (ver, entre outros, Zipes 1979 e Warner 1995). Como nota Cristina Taquelim, esta é uma atitude geral para com os repertórios de tradição oral, que falha em compreender a importância do seu contexto: